Renovação



                                                          
Walnize Carvalho

                  É tempo de reflexão.
                 Nos dias atuais, em que  o imediatismo nos move a seguir em frente sem nos dar, na maioria das vezes, oportunidade de recolhimento para meditação, há de se buscar alternativas para esse momento.
                 De repente, movida dessa necessidade você dá uma parada, procura um lugar em que consiga promover este encontro consigo mesma e se entrega a divagações.
                 E foi assim, que dia desses esqueci o presente e de mãos dadas com a saudade, embarquei no trem do passado.
               Desembarquei em cenário distante (no distrito de Santo Amaro) onde uma doce senhora - minha avó Mocinha - passa com placidez, lições de sabedoria sobre a Quaresma.
             Estas lições são recolhidas e lidas de um dos seus livros de cabeceira, onde ao lado estão seu terço, o véu negro  e uma imagem de santo coberta de pano roxo.
            Meus ouvidos atentos de criança curiosa, captam o desenrolar da narrativa.
        Terminada a leitura, a avó me convida para irmos a ladainha na Igreja local.
         Dá para se observar que durante a Quaresma, tudo muda na igreja, tudo é incomum: as missas, as orações, os cânticos, as melodias  e todo o ambiente.O ambiente festivo e a solenidade são substituídos pelo arrependimento e pela purificação da consciência. Os padres se vestem em vestimentas escuras; a porta principal se abre com menos freqüência; a iluminação é mais fraca; o sino toca menos; há poucos cânticos e mais leitura de salmos e de outras orações que predispõem à penitência; as pessoas se ajoelham com mais frequência.
        De volta para casa, na minha inocência de criança, pergunto à avó o porque desses rituais.e ela ,suavemente,  me transmite mais lições de sabedoria.
         Doces e fortes lembranças, que me impulsionam a refletir, que os tempos mudaram, mas se faz necessária uma reciclagem diária de hábitos, valores e conceitos.
        E que esta renovação não só se prenda a um período específico do ano, mas que, ao mesmo tempo, sirva de alerta, de que é  preciso zerar o nosso cronômetro e começar tudo outra vez.   



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