Quadro
Walnize Carvalho
(Esta crônica foi feita através do relato de um fato que postei dia desses aqui no blog)
(Esta crônica foi feita através do relato de um fato que postei dia desses aqui no blog)
E foi que numa dessas manhãs, minha neta Valentina (6 anos) contou-me, que teria que apresentar um trabalho de História para a sua escola,sobre um Patrimônio Histórico da cidade.
Além dos dados referenciais, deveria anexar à sua pesquisa escolar, uma fotografia tirada por ela.
A parte escrita, seria encontrada e transcrita do livro: “Campos depois do Centenário”volume I) de autoria do seu bisavô - Waldir Carvalho ( o que o fez mais tarde com ajuda do seu pai).
Incumbida de dividir com ela “a procura”, para o registro fotográfico, achei melhor associar: distância (reside nas proximidades) e descoberta (por conhecer o Bem Material, mesmo sem saber de sua importância).
Muito esperta (já que frequenta o Jardim São Benedito e brinca lá, quase todas as manhãs) ao chegarmos, me indagou se “aquela casa grande no meio da praça” era um deles, o qual seria fotografado.
Afirmei que sim e expliquei que se tratava da Academia Campista de Letras.
Passamos pelo portão e nos aproximamos da referida “Casa de Letras”
Nem a manhã chuvosa diminuiu o entusiasmo da nova fotógrafa.
Para nossa surpresa, embaixo das pilastras dormia um senhor.
A menina ficou preocupada de acordá-lo e estranhou o fato dele ali estar adormecido. Mesmo assim, fotografou o monumento, ainda que à distância...
Retomamos o caminho de volta, enquanto ela indagava mais uma vez: - Porque aquele moço dormia ali? Expliquei que há pessoas, que andam pelas ruas, sem abrigo, pedindo esmola embora haja instituições que os possa acolher...
Após deixá-la em casa, segui para o Centro comercial a fim de revelar a referida foto.
Seguia meu trajeto quando, por ironia do destino, avistei sob as marquises da “Lira Apolo”, mais um cidadão envolto em trapos e sono...
Antes de retornar à casa já com a foto revelada, resolvi almoçar ali pelo Centro da cidade.
Entrei sem pressa e sem fome no restaurante.
Comida à peso, mas requintada.Música ambiente, garçons solícitos, ar refrigerado.
Sem peso na consciência, arrumei o prato de forma harmoniosa e colorida.
A louça branca mais parecia uma palheta de pintor. A cada canto, iguarias em tons vivos e variados.
Fiquei a olhar a refeição com receio até de tocá-la dada a beleza.
À primeira garfada senti-me uma pintora, pois ao levantar o talher trouxe no gesto um toque de leveza ,sugestionada talvez, pela melodia suave que ajudava no desenho imaginário.
Olhei para frente. Na posição em que estava sentada visualizava a rua através do enorme vidro transparente do salão.
Vi diante dos meus olhos a movimentação de transeuntes, carros e motos; pessoas na loja em frente, outras conversando na calçada...E passei a pintar um quadro móvel.
Levantei-me.
Paguei a refeição.
Fui me integrar ao cenário do dia a dia.
Ao sair, avistei na sarjeta um garoto à espera de um trocado: A rubrica de um quadro real das cidades.
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