O AMOR ETERNO PASSEIA DE ÔNIBUS Marina Colasanti Vou atribuir esta história ao Rubem Braga. Primeiro, porque acho que foi ele que me contou há muito tempo. Segundo, porque, se não foi ele, deveria ter sido, já que a história tem toda a cara de Rubem Braga. Pois bem, antigo apaixonado pela praia e observador atento de seus freqüentadores, Rubem reparava num casal de velhinhos que todo dia, ao final da tarde, passeava na calçada. Iam de mãos dadas, olhando as ondas, trocando umas poucas palavras, sem pressa, como quem já se disse tudo o que havia de importante para dizer. Às vezes levavam um cão, outras vezes iam sozinhos. Tinham um ar doce e apaziguado que encantava Rubem. Afinal, dizia-se o cronista olhando o casal, o amor é possível e, na nossa pequena medida, pode até mesmo ser eterno. A vida quis que um dia Rubem conhecesse uma jovem senhora, a qual se revelaria adiante parente do casal de velhinhos. E foi por ela, numa tarde em que louvava encantado o amor daquel...
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Depois que ela se foi da sua vida, levou um bom tempo ainda pensando.
Não podia negar, a sua ausência era sentida constantemente.
Agora, nem se lembra mais de detalhes da convivência a dois.
Mas em contrapartida, recordava vez por outra dos dissabores vividos.
Alguma coisa guardava ainda.
Talvez na forma de um cofre inexpugnável, que só ele sabia o quanto e o que tinha lá dentro.
Afinal, sempre existe em qualquer convivência o outro lado.
Aquele que não tem o glamour dos amantes, o áspero.
O ponto culminante da sua impaciência era com os ciúmes dela.
Sempre infundados e num explodir de emoções de forma doentia.
Até se poderia imaginar que era uma coisa meio que patológica, o bastante para em dados momentos, lhe causar preocupação e intranquilidade com alguns comportamentos mais desequilibrados.
Assim, era bastante motivo para tentar o rompimento, mas atitude assim tão forte não se poderia tomar de uma hora para outra.
Apesar das experiências vividas não tinha muito que fazer –– estava atônito –– cada vez mais envolvido e de uma forma que nem conseguia mais raciocinar direito.
Mas persistiu nos seus objetivos.
Até que em determinado momento resolveu dar um basta.
Arrumou as suas coisas e saiu do apartamento –– ainda não eram casados –– quando ela estava ausente.
Sofreu uma boa temporada com aquela situação, confessou.
Mas já agora, admitiu, não existe nenhuma marca mais.
Mas um dia, bastante tempo após a separação, depois de assediado tantas e tantas vezes na tentativa de uma reconciliação –– se lembrou naquele momento –– a viu num shopping.
Estava acompanhada de outro e aparentemente muito feliz.
Os anos correram e hoje, já casada e com filhos, quando o vê –– descreveu ––, “dá de ombros” e “empina o nariz”.
Tomara que tenha aprendido e não sufoque o atual da mesma forma, ou mesmo que ele tenha capacidade de suportar o bastante.
Agora reflete e entende que é a vida. Muito felizmente, é a vida.
Afinal –– como dizem e ainda bem –– “a fila anda”.
Francisco Alberto Sintra