Na grande roda da inocência
Walnize
Carvalho
E foi que a saudade veio brincar com
minhas lembranças nesta manhã. Puxando-me pela saia, me levou ao
encontro do passado. O saudosismo me colocou no meio da roda, fazendo que neste
pulinho para trás, rodopiasse e tonteasse de alegria.
Lembro-me bem...Eu, toda a caráter - vestido de
chita, tranças no cabelo - nitidamente me vi (já que é tempo delas) em uma
festa junina na casa da prima Dinora (que, na verdade, era prima de minha mãe )
– e, nós, crianças – assim também a chamávamos.
Mais do que um festejo junino era
um encontro familiar.
E
naquele junho distante não
foi diferente.
Já na nossa chegada a dona da casa saudava a
todos: - Oi, compadre! – Oi, comadre! Acendam a fogueira dos seus corações, que
a festa já vai começar...
E na grande festa, não faltavam
crianças felizes, matutas, caipiras. Umas acanhadas, outras descontraídas. As
meninas de babados, bocas vermelhas, laços de fitas, olhos reluzentes; os
meninos de bigode, gravatas, chapéus e sorrisos; casal de noivos , música animada, frio
cortante, calor humano.
O ambiente era
um convite à descontração. O arraial estava todo preparado para a festança:
música, dança , brincadeiras e, é claro, muita comida gostosa...
O quintal, como de costume, todo enfeitado de bandeirinhas e balões coloridos. Nas laterais, barraquinhas com variados
quitutes: cocadas, biscoitos de polvilho, broas de milho, tapiocas, rapaduras,
pés de moleque e toda sorte de guloseimas.
Ao fundo, no fogão à lenha, eram preparados os
pratos típicos: batata doce cozida; manuê (bolo de aipim), milho assado,
canjiquinha....Sem contar, com o Quentão:bebida feita com pinga, gengibre e
canela. Bem lá no fundo, a fogueira iluminava o ambiente.
Cantigas
inesquecíveis como: “Pula a fogueira”, “Capelinha de Melão”, “Isto é lá com
Santo Antônio” ...embalavam nossa euforia.
A
um canto o sanfoneiro começava a dar seus primeiros acordes, convidando a
moçada, pois em breve teria início a quadrilha...
-
Anavan!... Anarriê!...Alavantur...Balancê...Tu...Caminho da Roça...Olha a
chuva...ditava os comandos, o marcador.
Paro
a dança. Estanco as lembranças.
Este
pulinho lá atrás foi um saudável exercício de memória. O burilar de
reminiscências me faz um bem enorme.
E assim...ingenuamente esquecida do “mundo lá fora”, do tempo, das
notícias, dos dramas, dos assaltos, do corre - corre do cotidiano, girei na
grande roda da inocência de mãos dadas
com a magia e a felicidade .
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