O AMOR ETERNO PASSEIA DE ÔNIBUS Marina Colasanti Vou atribuir esta história ao Rubem Braga. Primeiro, porque acho que foi ele que me contou há muito tempo. Segundo, porque, se não foi ele, deveria ter sido, já que a história tem toda a cara de Rubem Braga. Pois bem, antigo apaixonado pela praia e observador atento de seus freqüentadores, Rubem reparava num casal de velhinhos que todo dia, ao final da tarde, passeava na calçada. Iam de mãos dadas, olhando as ondas, trocando umas poucas palavras, sem pressa, como quem já se disse tudo o que havia de importante para dizer. Às vezes levavam um cão, outras vezes iam sozinhos. Tinham um ar doce e apaziguado que encantava Rubem. Afinal, dizia-se o cronista olhando o casal, o amor é possível e, na nossa pequena medida, pode até mesmo ser eterno. A vida quis que um dia Rubem conhecesse uma jovem senhora, a qual se revelaria adiante parente do casal de velhinhos. E foi por ela, numa tarde em que louvava encantado o amor daquel...
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De há muito já não se viam.
Mas guardavam, cada qual a seu modo, boas lembranças, amizade e educação familiar adquirida de berço.
Foram dias memoráveis de passeios, conversas várias e recordações de fatos e pessoas que com eles conviveram.
Passaram a limpo velhas e novas histórias,
Desta feita, no entanto, muito mais à vontade para segredar seus erros, frustrações, alegrias e desejos.
Certo é que nunca houve antes momentos tão marcantes de desnudada cumplicidade.
Para eles, sentiram que alguma coisa mágica aconteceu, que pode ser creditado até ao amadurecimento de sentimentos, ideias e o vivenciar de dissabores, tão natural em quem já transitou o bastante em longa estrada para chegar à compreensão.
Decorridos tantos dias, absorvidos pelas atenções e pela presença, até prazeres e obrigações foram minimizados em suas importâncias diante daqueles momentos.
Compreensível, claro, afinal sempre se integraram, mas as jornadas de conquistas profissionais fizeram com que se afastassem e as distâncias dos seus exercícios eram consideráveis.
Bem verdade que se a ausência física é efetiva, jamais abriram mão da boa comunicação pelos meios que lhes possibilitassem contatos, às vezes até por duas ou três vezes por semana.
Mas o desejo de estar junto sempre foi muito forte.
Agora, passou a sentir um vazio com o partir, mesmo sabendo que a ida daquele seu único irmão para o seu meio familiar, naturalmente, já o pressionava intensamente.
No entanto, ficou certo dentro de cada um quantitativos expressivos da importância do encontro, que desejam, continuarão muitas e muitas vezes mais.
Todavia, se para o que se foi existe muitos em casa a esperar, ao contrário, o que ficou, ficou, somente com a sua sempre presente e constante solidão.
O que no caso, aliás, não lhe trás nenhuma tristeza, mas uma acentuada conformação, sem abdicar de almejar que assim não seja para sempre.
Francisco Alberto Sintra