O AMOR ETERNO PASSEIA DE ÔNIBUS Marina Colasanti Vou atribuir esta história ao Rubem Braga. Primeiro, porque acho que foi ele que me contou há muito tempo. Segundo, porque, se não foi ele, deveria ter sido, já que a história tem toda a cara de Rubem Braga. Pois bem, antigo apaixonado pela praia e observador atento de seus freqüentadores, Rubem reparava num casal de velhinhos que todo dia, ao final da tarde, passeava na calçada. Iam de mãos dadas, olhando as ondas, trocando umas poucas palavras, sem pressa, como quem já se disse tudo o que havia de importante para dizer. Às vezes levavam um cão, outras vezes iam sozinhos. Tinham um ar doce e apaziguado que encantava Rubem. Afinal, dizia-se o cronista olhando o casal, o amor é possível e, na nossa pequena medida, pode até mesmo ser eterno. A vida quis que um dia Rubem conhecesse uma jovem senhora, a qual se revelaria adiante parente do casal de velhinhos. E foi por ela, numa tarde em que louvava encantado o amor daquel...
Comentários
Para tudo que ouvia tinha uma interpelação própria, bem como fazia rapidamente ilações com fatos ou pessoas.
Muito antes de raciocinar emitia “destranbelhadamente” uma opinião.
Certa vez no centro da cidade, naquelas conhecidas rodas de amigos ouviu de um parceiro, quando a discussão passava pelo vício do fumo e o efeito em determinada pessoa:
--Nele, o constante salivar é oriundo do vício do tabagismo.
Foi o bastante para ele interferir:
--Constante Bolívar? Conheço desde a infância, somos amigos.
Em outro momento, muito prolixo em suas exposições, começou a contar sua viagem ao interior de São Paulo onde residia uma filha.
Era do tipo que discorria sem interrupções e ainda segurava o antebraço do interlocutor, se pressentisse qualquer descuido de atenção quanto à sua fala.
Não deixava por menos. Toques no peito, ligeiras batidas no ombro, dedo em riste.
Bem verdade que até as suas histórias tinham sempre alguma coisa de interessante.
Na viagem a São Paulo, longa, tomou a manhã inteira prendendo a atenção dos que o cercavam.
Hora do almoço chegando, começaram os movimentos de corpo para as escapadas. Foi o bastante para que ele segurasse o mais próximo e sentencia-se:
--Aguenta aí, ainda não te contei o retorno da viagem que é muito mais interessante!
Era conhecido por hábitos simples e vida metódica, mas um dia foi descoberto, por informação de um vizinho íntimo, que não era “chegado” ao banho.
E a forma se deu que ele interpelou o vizinho de maneira crítica:
--Não sei como você aguenta. Num verão “doido” eu tomo dois banhos por dia.
No que o interpelado respondeu:
--É..., eu só tomo um mesmo, mas no inverso também!
Francisco Alberto Sintra