O AMOR ETERNO PASSEIA DE ÔNIBUS Marina Colasanti Vou atribuir esta história ao Rubem Braga. Primeiro, porque acho que foi ele que me contou há muito tempo. Segundo, porque, se não foi ele, deveria ter sido, já que a história tem toda a cara de Rubem Braga. Pois bem, antigo apaixonado pela praia e observador atento de seus freqüentadores, Rubem reparava num casal de velhinhos que todo dia, ao final da tarde, passeava na calçada. Iam de mãos dadas, olhando as ondas, trocando umas poucas palavras, sem pressa, como quem já se disse tudo o que havia de importante para dizer. Às vezes levavam um cão, outras vezes iam sozinhos. Tinham um ar doce e apaziguado que encantava Rubem. Afinal, dizia-se o cronista olhando o casal, o amor é possível e, na nossa pequena medida, pode até mesmo ser eterno. A vida quis que um dia Rubem conhecesse uma jovem senhora, a qual se revelaria adiante parente do casal de velhinhos. E foi por ela, numa tarde em que louvava encantado o amor daquel...
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Ele nunca foi de atitudes avançadas e atrevidas em conquistas.
Tímido, sempre mediu as distâncias e analisou as aparências.
Amante do belo, mas sempre entendeu o ser interior como de maior valor, não se importando, ou não configurando o que se vê como privilégio.
Os seus sonhos se passavam nos estritos limites do imaginável e do possível.
Nunca se arvorou em aventuras que não lhe confortassem a alma.
Bem verdade que era preciso que o coração batesse primeiro e mais forte, muito antes dos impulsos que a imagem lhe poderia oferecer.
Vê-se então que as embalagens, sem olvidar de admirar as mais belas, nem sempre demonstravam o valor e a qualidade do conteúdo, estes, no seu entender, o mais atraente.
Também a quantidade nunca lhe foi importante, atitude até que o fazia ser merecedor de registros de amigos pela perda de oportunidades tão bem claras e explicitas.
Mas não era para ele o que estimulava.
Quando era conquistado, nunca pelos olhos analíticos da maioria, mas com os que entendia que numa forma de introspecção varavam a alma.
De sonhos e sonhos, no entanto, não se pode dizer que se arrependeu do que viu, fez e vivenciou, mas, certamente, restou vago o que nunca realizou.
Por isso mesmo, tal e qual com a disposição de um experiente “mascate” está na estrada, com a mala cheia das melhores e valiosas emoções para oferecer.
Até porque, não se esquece da citação de um amigo interiorano: “cachorro velho cai os dentes, mas não perde o faro”.
Francisco Alberto Sintra