BIZARRO
Walnize Carvalho
Quando ela se anunciava (e final de semana geralmente
era quando a “danada” a pegava de jeito) sai de baixo
... Do Carmo ficava impossível e com um estranho desejo.
Era a vontade de sentir Tristeza. E tinha que ter tristeza
para justificar a tristeza.
Arranjava um grande motivo para deixá-la chegar ... e ficar.
E assim, lenço na cabeça, avental, pano de chão, balde e
vassoura se dava a faxinar a casa. Para ela uma sensação ambígua de humilhação
e glória. Suor pela face, joelhos no chão, limpava canto por canto. Verdadeiro
auto flagelo.
Olhava as unhas pintadas na sexta-feira já totalmente
destruídas. A escova progressiva já dava sinais de ter que ser refeita (gastara
um bom dinheiro).
Respiração ofegante, coração exultante.
Como estava só em casa aproveitava para ouvir os velhos
sucessos musicais do tipo “Ninguém me ama; ninguém me quer”. Cantarolava ... E
bem lá no fundo de seu ouvido o refrão da “Escrava Isaura” fazia ressonância:
“lerê, lerê, lerêlerêlerêlerêêê”...
Afinal, movida de tamanha felicidade de ter conseguido o seu
intento – sentir Tristeza - jogava-se na poltrona (após banho tomado), fechava
as cortinas da sala e começava a chorar, gargalhar, soluçar.
Vencida
pelo cansaço, dormia abraçada à “visita” como um anjo sem culpa.
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