A gente se habitua
Walnize Carvalho
A gente se habitua com a falta de
gentilezas, de afagos e sorrisos...
A gente se habitua a esperar horas por um
telefonema ou - quem sabe- uma mensagem:- Como passou seu dia?...
A gente se habitua a dar “um bom
dia” para as pessoas em seu caminho sem receber, muitas vezes, a saudação de
volta...
A gente se habitua a não ser notado nas filas,
nos meios de transportes, nas calçadas...
A gente se habitua ao tempo de espera; à
falta de tempo, de buscar no tempo o tempo sem tempo de voltar...
A gente se habitua a assistir e conviver com :
corrupção, destruição, poluição, mar de
lamas sem nem mesmo olhar o mar, espiar o luar ou buscar alguém para falar...
A gente se habitua a mensagens virtuais, a
redes sociais, esquecendo o perfume das cartas, a melodia das vozes, o calor
dos abraços...
E
depois de tanto costume adquirido - talvez- para não se perder, para não se
ferir, para não se machucar, a gente se habitua a poupar a vida que -
paulatinamente - se desgasta, e se esvai em silêncios.
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