Os invisíveis
Walnize Carvalho
A ideia
primeira que passa a quem me lê o é que vou escrever sobre fantasmas.
Nada mal lembrar por exemplo de “ Pluft, o
fantasminha” (teatro infantil) de Maria Clara Machado. Para quem não sabe,
“conta a história de uma menina chamada Maribel, que foi raptada por um pirata
que a esconde num sótão de uma casa abandonada, onde curiosamente habita uma
família de fantasmas: Mãe Fantasma e seus pastéis “de vento”; tio Gerúndio, que
passa a vida dormindo num baú e Pluft um
fantasminha que nunca viu pessoas. Tem também o avô de Maribel, o capitão
Bonança que é dono de um imenso tesouro”. O enredo da peça é centrado na
procura deste tesouro.
. Nada
mal também esquecer daquelas visões apavorantes, que nos assombram
cotidianamente : nossos desassossegos, nossos sonhos, nossos desejos, nossos
fracassos, nossos descontentamentos...
Os “fantasmas”
aos quais me refiro são outros: são os que aparentam ser
fantasmas (já que se passam por invisíveis), circulam diariamente entre
as pessoas e, surpreendentemente, não são notados.
Começo
lembrando de “um” deles: o faxineiro do prédio em Niterói, onde tenho
apartamento.
Todos os dias lá está ele –uniforme caqui ,vassoura e flanela em punho –limpando ora a portaria do edifício; ora os corredores em que transitam os moradores (que são muitos) e são poucos os o que o vêem ...e o cumprimentam.
Todos os dias lá está ele –uniforme caqui ,vassoura e flanela em punho –limpando ora a portaria do edifício; ora os corredores em que transitam os moradores (que são muitos) e são poucos os o que o vêem ...e o cumprimentam.
Mais na
frente, recordo-me de episódios que comprovam esta invisibilidade e, que estão
(infelizmente) se tornando corriqueiros à nossa volta: a ausência de atenção
com os idosos; a falta de gentileza em agradecer pequenos gestos; a rara
espontaneidade em ceder a vez nas filas... Dar o lugar a gestantes em conduções
superlotadas? Coisas do passado. Abrir a porta do elevador para alguém? -
Serviço de porteiro! Disse - me uma vizinha.
Quer ver um
fato rotineiro que me faz sentir transparente?
Sair à rua e ao caminhar por uma calçada deparar com pessoas
conversando, gesticulando e que se
esquecem de nos dar passagem.
Não estou aqui
posando de boa moça. Como qualquer ser mortal, também cometo ainda
que,involuntariamente, os meus tropeços. Porém, procuro estar sempre atenta aos
meus atos, enxergando o próximo e
tentando dar e retribuir a atenção merecida, afinal vivemos em sociedade.
Ainda ontem,
pela manhã, observei que a moça que varre o meio fio das ruas (e todos os dias a cumprimento) buscava
sombra sob uma árvore demonstrando sede e cansaço.Acenei-lhe e ela veio ao meu
encontro e lhe ofereci um copo d’água...
Antes que os
que me leem agora tornem invisível meu
texto retorno à peça infantil :o lado poético da obra é a
relação de fortes laços de amizade que se criam entre a menina e o fantasminha.
Ah!.. ia me
esquecendo: o nome da varredora da rua é Aparecida.
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