A Língua dos homens
Walnize
Carvalho
... E foi,
que dia desses, estava em uma farmácia e curiosamente vi quando um senhor
entrou, dirigiu-se a um dos atendentes.
Disse ele
em alto e bom som:
- Você tem
emplasto Sabiá?
- Hã?!?
- Emplasto
Sabiá! Aquele esparadrapo que se coloca no corpo. Estou com dor nas costas!
- Não
conheço, senhor! Serve tal (citou a marca)?
- Não, não!
E saiu
apressado.
Distraidamente
passei os olhos pelas prateleiras e lá encontrei: Leite de Rosas, Biotônico Fontoura,
Água Inglesa, Polvilho Antisséptico Granado,Emulsão de Scott, Gumex, Óleo de Fígado de Bacalhau,
Pente Flamengo e outros produtos para muitos desconhecidos ou esquecidos e, que
por certo, ainda tem quem os procure.
Saí dali e
atravessando a rua sentei-me em dos bancos da praça. Observei crianças
brincando, senhores jogando cartas e a um canto um idoso – olhar perdido no
tempo – enquanto pombos se alimentavam ao seu redor.
Vendo a
cena constatei que muitos dos nossos velhos encontram-se esquecidos nas “prateleiras” à espera de que os notemos;
de que ouçamos seus sábios conselhos; de que nos esforcemos para entender o que
querem nos comunicar.
Passamos
por eles distraídos e, ao mínimo esboço de conversa ou de explanação sobre um
assunto, retrucamos:
- Hã?!? Não
estou entendendo! Mais tarde a gente conversa.
Damos,
assim, a nítida impressão de que eles estão “falando grego” e que a nossa
pressa não permite questionamento.
Ah! A
Língua dos Homens!
Na luta
diária que travamos (não de gregos e troianos) deixamos escapulir oportunidades
de diálogos, entendimentos e trocas de experiências.
Estamos
sempre atrelados ao tempo (ou falta de tempo?) e nem paramos para pensar,
ensinar, aprender, e como disse o filósofo Confúcio: “Aprender sem pensar é
tempo perdido”.
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