Rio apresenta péssimo índice na Educação
Do jornal "O Globo":
"Os dados divulgados esta semana pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais (Inep) revelam que, se no Estado do Rio a
situação do ensino médio é crítica, na capital é pior ainda. No 1º ano,
por exemplo, 51% dos estudantes da rede pública repetem ou abandonam a
escola. O número coloca os cariocas com o terceiro pior desempenho
entre todas as 27 capitais do país, à frente apenas de Vitória (53,3%)
e Porto Alegre (52,5%).
Entre os 92 municípios fluminenses, a
rede pública da cidade do Rio só é melhor do que Búzios no 1º ano do
ensino médio. O município da Região dos Lagos apresentou taxa de 53,6%
na soma de abandono e repetência. Na outra ponta, aparece a pequena
Italva, com apenas 5,8%. Os dados são referentes ao ano de 2011.
Levando-se
em conta todos os três anos do ensino médio, a capital fluminense tem
39,7% dos estudantes retidos porque largaram a escola ou não
conseguiram passar para outra série. O Rio aparece como a quarta pior
capital do país. A pior foi Salvador, com 42,9%. A melhor, Manaus
(19,3%). Dentro do estado, os cariocas novamente só conseguem ficar
melhor do que Búzios (41,6%).
Para especialista, problema é ainda maior
Para
a mestre em educação pela PUC-Rio e superintendente-executiva do
Instituto Unibanco, Wanda Engel, a situação pode ser ainda mais grave
do que a mostrada por esses números.
— O problema pode ser ainda
mais sério, já que há pesquisas mostrando que, em termos nacionais, 20%
dos alunos que saem do ensino fundamental sequer se matriculam no
ensino médio. Para quem ingressa, o principal momento de desistência é
o 2º bimestre do 1º ano. E a grande questão é a falta de condições
acadêmicas: o estudante chega sem ter aprendido fração para estudar
física e química. Tira zero nas provas e acaba achando que não é capaz
— avalia ela.
Quando é feita a comparação entre a rede pública
(onde mais de 95% das matrículas estão com o estado e o restante é
federal) e a particular na capital, o abismo fica evidente. Se na
primeira o índice de abandono e reprovação no 1º ano do ensino médio é
de 51%, nas escolas privadas é de somente 16,3%.
— Na capital, há
um ponto crítico na rede pública, que é a grande oferta de vagas
noturnas no ensino médio. E, do jeito que as aulas são aplicadas à
noite, são um convite para o abandono. Esse período deveria ser
reservado para os jovens acima de 18 anos que cursam a Educação de
Jovens e Adultos (antigo supletivo) — completa Wanda Engel.
Apesar
do fraco desempenho principalmente na capital, o secretário estadual de
Educação, Wilson Risolia, comemorou os resultados divulgados esta
semana pelo Inep, pois mostram que tem havido uma diminuição
significativa de alunos que repetem ou abandonam o ensino médio.
—
Quando falamos de todo o estado, fomos o terceiro que mais melhorou
desde 2009 na quantidade de aprovados, tanto no ensino médio quanto
somente no 1º ano. No total do ensino médio, por exemplo, a rede
diminuiu em 5,3% o número de alunos que são reprovados ou abandonam a
escola de dois anos para cá.
Risolia admite, no entanto, que
ainda há muito o que fazer. O secretário afirma que parte do problema
no ensino médio é decorrência de falhas no ensino fundamental, mas que
estão sendo tomadas ações de aceleração escolar, para os alunos com
defasagem idade-série, e de reforço, para aqueles que não conseguem
acompanhar o ritmo das aulas.
— Em 2010, tínhamos 60 mil alunos
fazendo reforço. Este ano, a nossa expectativa é chegar a 240 mil.
Realmente enfrentamos um problema de falta de vagas diurnas,
principalmente na Zona Oeste da capital. Mas no início deste ano, por
exemplo, abrimos três mil. Também estamos preparando mudanças na
Educação de Jovens e Adultos para o segundo semestre — adiantou o
secretário.
Responsável por boa parte do ensino fundamental
(porta de entrada do ensino médio) na capital, a secretária municipal
de Educação, Claudia Costin, também se defende:
— Até 2009, havia
um problema que era a aprovação automática. Quando se implementa esse
tipo de progressão sem um processo estruturado de ensino, o problema
vai sendo empurrado para frente. Mas, de lá para cá, o quadro já mudou:
implementamos medidas como um currículo único e um sistema de
acompanhamento de desempenho com provas bimestrais. O Rio está entre as
capitais de melhor desempenho no ensino fundamental.
Para Zaia
Brandão, professora do Departamento de Educação da PUC-Rio, a crise do
ensino médio tem uma de suas principais raízes na formação do professor:
—
Enquanto não levarmos a sério as condições de formação e trabalho
(materiais, culturais e simbólicas) do professor, a situação
permanecerá caótica. A solução não será encontrada com fórmulas mágicas
e sim com vontade política e competência técnica."
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