Escolhi esse texto do Artur da Távola pra tratar de uma tristeza. O Fellini, nosso gato que estava conosco há sete anos, está desaparecido. Ele chegou à nossa casa com dois ou tês anos, ou seja já é um senhor idoso. Quem sabe ao fim do dia não apareça com seu ar doce e altivo ignorando solenemente os ataques histéricos de Johnny, meu cocker spaniel. Amável, gentil mesmo, e profundamente independente como é da natureza dos gatos. Bichos polêmicos sem o querer, porque sábios, mas inquietantes, talvez porisso. Nada é mais incômodo que o silencioso bastar-se dos gatos. O só pedir a quem amam. O só amar a quem os merece. O homem quer o bicho espojado, submisso, cheio de súplica, temor, reverência, obediência. O gato não satisfaz as necessidades doentias do amor. Só as saudáveis. Lembrei, então, de dizer, dos gatos, o que a observação de alguns anos me deu. Quem sabe, talvez, ocorra o milagre de iluminar um coração a eles fechado? Quem sabe, entendendo-os melhor, estabelece-se um grau de...