Brasil recorda os 100 anos do nascimento do escritor Jorge Amado

Da:Agência Lusa

Um dos mais consagrados autores de língua portuguesa, o baiano Jorge Amado (1912-2001), criador de uma obra única, capaz de unir crítica social, ironia e erotismo, faria na próxima sexta-feira 100 anos.
Conhecido mundialmente pelos romances "Gabriela, Cravo e Canela" (1958) e "Dona Flor e Seus Dois Maridos" (1966), Jorge Amado consagrou-se pelo seu estilo simples, com temáticas e personagens populares que traziam à tona a sensualidade da mulher baiana e as injustiças sociais da época.
No Brasil, o escritor é visto como alguém que foi capaz de "reinventar" o conceito de "brasilidade" e do papel do mestiço na formação da cultura nacional.
Filho de um fazendeiro de cacau do sul da Baía, Jorge Amado estudou em bons colégios, tendo-se graduado em direito, em 1935, na Faculdade Nacional de Direito do Rio de Janeiro, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O seu primeiro romance, "O país do Carnaval", foi lançado quando tinha apenas 18 anos, em 1931, mesmo ano em que se casou com a sua primeira esposa, Matilde Garcia Rosa.
Apesar da ênfase dada ao teor erótico da sua obra, Jorge Amado foi desde o início ligado à política, tendo sido membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Vários dos seus livros, com destaque para "Capitães de Areia" (1937), foram queimados em Salvador, por serem considerados "revolucionários". Na altura, o Brasil vivia sobre o autoritarismo do Estado Novo (1937-1945), instaurado por Getúlio Vargas.
Considerado então como um autor "subversivo", Jorge Amado partiu para um autoexílio na América Latina, tendo vivido no Uruguai e na Argentina, de onde lançou, em 1942, "O Cavalheiro da Esperança", biografia do líder comunista brasileiro Luís Carlos Prestes.
Na volta, em 1944, separa-se da primeira mulher, casando-se poucos anos depois com a também escritora Zélia Gattai, com quem ficou até ao final da sua vida.
Em 1945, o escritor foi eleito membro da Assembleia Nacional Constituinte, pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), tendo sido o responsável por criar a lei que garante, ainda hoje, a liberdade de culto religioso no Brasil.
A medida visava garantir a proteção, em especial, das crenças herdadas do povo africano, como o candomblé e a umbanda, muito fortes na região da Baía.
O próprio escritor era simpatizante do candomblé, tendo recebido o posto de honra da religião conhecido como "Obá de Xangô", do qual dizia ter muito orgulho, embora se declarasse marxista e ateu.
Quando o registo do PCB é cancelado e Jorge Amado perde o seu mandato, em 1948, o escritor parte novamente para um autoexílio, desta vez em Paris e Praga, período no qual tem oportunidade de conhecer figuras de renome internacional como Pablo Picasso e Jean-Paul Sartre.
De volta ao Brasil, em meados da década de 1950, afasta-se definitivamente da política, passando a dedicar-se integralmente à literatura.
Graças à autenticidade da sua obra - traduzida para 49 idiomas e comercializada em 55 países - Jorge Amado é um dos poucos escritores que conseguiu manter-se apenas com direitos de autor. Entre os autores brasileiros ele perde, em número de vendas, apenas para Paulo Coelho.
"Gabriela", lançado em 1958, vendeu logo nos primeiros meses mais de 50 mil exemplares, enquanto a primeira edição de "Dona Flor e Seus Dois Maridos", de 1966, já saiu com 75 mil. Nesse mesmo ano, uma sessão de autógrafos realizada em Portugal reuniu mais de 100 mil pessoas.
Vencedor do Prémio Camões de Literatura de 1995, Jorge Amado coleciona ainda uma série de títulos, entre eles dois Jabuti, em 1959 e 1995, e o Prémio Estaline da Paz, conferido pela União Soviética, em 1951.
Eleito como membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) em 1961, o baiano passou a ocupar a cadeira número 23, cujo patrono é o escritor José de Alencar. O mesmo assento foi ocupado pela sua viúva, Zélia Gattai, após a sua morte.

Jorge Amado faleceu em 2001, aos 88 anos de idade.

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