Inundação na Biblioteca Nacional causou danos maiores do que os anunciados pela instituição

A inundação na sede da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), ocorrida na quarta-feira devido ao vazamento de um duto do ar condicionado, foi muito mais grave do que a direção da instituição informou. Obras da primeira metade do século XX foram atingidas, jornais ficaram completamente encharcados e as goteiras chegaram até o setor de manuscritos. Os danos totais, segundo funcionários que estiveram no local, ainda não podem ser mensurados devido à quantidade de água que se espalhou. Além disso, no início de abril, a biblioteca passou por outra inundação, esta na hemeroteca do prédio anexo, na Praça Mauá. Este incidente nunca foi tornado público e atingiu 48 volumes de arquivo, cada um com 30 exemplares de jornais, alguns raros. Hoje, teme-se que o estado das instalações dos prédios da FBN possa causar novos acidentes.

O problema na sede da biblioteca, na Avenida Rio Branco, aconteceu no início da manhã de quarta-feira. Uma tubulação de ar condicionado se rompeu no quarto dos seis andares que compõem o armazém de periódicos, onde são guardados mais de cinco milhões de peças. O setor se espalha por mezaninos acima do acervo de manuscritos e de um salão de leituras. A água desceu pelos andares, e as goteiras chegaram a cair nas prateleiras dos manuscritos, mas não há informações de que algum deles tenha sido danificado. Poças de até 10cm de profundidade se formaram entre as prateleiras dos periódicos. Assim que a inundação foi percebida, os funcionários que chegavam à biblioteca se dedicaram a tentar evitar uma tragédia maior. As luzes foram apagadas para evitar curtos-circuitos, e os periódicos foram pendurados em varais no próprio armazém. Uma das maiores preocupações era retirar os volumes das prateleiras inferiores, mas, em muitos casos, não foi possível evitar que as obras se molhassem.

Um exemplar raríssimo da “Revista Infantil”, publicada em 1939, foi atingido. Volumes encadernados de jornais do século XX também, e ainda tiveram as páginas coladas. Entre esses, havia exemplares do antigo “Jornal de Notícias”, que circulou no Rio há cerca de cem anos. Incontáveis unidades de jornais e revistas dos últimos anos ficaram completamente molhadas. Segundo funcionários, não há garantia de que todos as publicações já estivessem microfilmadas.

Logo após o incidente, dezenas de pessoas estiveram no local e fotografaram a inundação, mostrando os itens mais raros do acervo. A FBN, porém, informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “apenas jornais de 2010 a 2012” foram alcançados pela água e que a maioria já estaria microfilmada. Hoje, a consulta aos periódicos ficou fechada.

A situação da FBN é ainda mais delicada porque a inundação não foi um fato isolado. Há cerca de um mês, após uma chuva mais forte, o sistema de ar-condicionado do prédio anexo sofreu infiltração. A água passou pelos dutos e alagou a hemeroteca. Entre os mais de 1.400 exemplares atingidos, havia uma coleção do antigo “Deutsche Volksblatt”, periódico editado no Rio Grande do Sul entre 1871 e 1960. Tanto no caso da inundação da sede quanto na do anexo, as peças precisam passar por um processo de secagem que pode demorar até três meses. Há riscos, ainda, de alguma obra ser completamente danificada.

A Associação dos Servidores da FBN divulgou nota em que discorda da posição da instituição quanto à gravidade da inundação: “A FBN agiu com celeridade para solucionar vazamento e iniciar o processo de recuperação do acervo atingido. Mas esclarece que, diferentemente das informações da FBN, ainda não é possível mensurar os danos. Estão incluídos na lista títulos publicados em períodos mais antigos, como na década de 30. Também não há como garantir que tenham sido “parcialmente atingidos cerca de 800 fascículos avulsos” apenas. Os armazéns se encontram molhados e muitos títulos, encharcados. A recuperação dos volumes pode levar muito tempo e a consulta aos originais está suspensa por tempo indeterminado. Os exemplares atingidos ainda não estavam, em sua maioria, microfilmados”.

Nesta quinta-feira, novamente questionada e informada a respeito da publicação de fotos de obras raras atingidas, a FBN mudou o discurso. Segundo ela, em nota, os dados de anteontem foram passados após uma primeira vistoria, e apenas ontem a extensão real dos problemas foi verificada. “Ao longo do dia, os esforços e as equipes estavam voltados para solucionar, o quanto antes, a questão. As informações iniciais foram baseadas em avaliações preliminares. A partir da avaliação iniciada na manhã de quinta-feira, foi-se percebendo que outras partes do acervo haviam sido atingidas”. A instituição acrescentou que “nenhum dano permanente nas obras” foi encontrado. O setor deve ser completamente reaberto ao público, sem as obras molhadas. A secagem completa levará de duas a três semanas.

Do:http://extra.globo.com

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