Valeu Doutor!
O domingo começa triste, ao ser informado pela minha esposa sobre o falecimento do Dr. Sócrates.
O ano era 1982. Pela primeira vez acompanhava uma Copa do Mundo de verdade, já que em 78 eu tinha apenas 6 anos e não me lembro de muitas coisas. Mas na Copa da Espanha, era diferente. Meses antes da competição, a marca de chicletes "Ping Pong" lança uma coleção de figurinhas dos jogadores que estariam na Copa. Fanático por futebol, acabei ganhando várias cáries graças a este álbum.
A seleção de 82, a melhor que vi jogar, foi um divisor de águas na minha relação com o futebol. Acompanhei os amistosos preparatórios, o Mundialito de 81 e toda a formação daquele time. Na época, meu pai começava a organizar os famosos campeonatos de futebol de botão lá em casa. As peladas na rua de chão eram diárias. E os gols deste ex-artilheiro eram bem mais frequentes do que nos dias atuais. Ou seja, toda a atmosfera era futebolística. E como naquele ano meu time não andava muito bem das pernas (bem pior do que os dias atuais, acreditem...), tive contato com meu primeiro ídolo no futebol: o Doutor Sócrates.
Craque dentro de campo, com visão de jogo acima da média, toques inesperados de calcanhar, sua marca registrada, gols importantes e liderança, o Magrão ainda se destacava como uma referência fora das quatro linhas posicionando-se contra a ditadura militar, participando do movimento das Diretas Já e criando, junto com outros jogadores, a famosa "Democracia Corintiana". Não por acaso, naquela época, comecei a simpatizar com o Timão. Anos depois, pela identificação do clube paulista com o time da gávea, não consegui levar esta simpatia à frente.
E neste domingo nublado, passa um filme na minha cabeça. Daquela Copa do Mundo, que até hoje é a mais marcante de minha vida. E com certeza na vida daqueles que vivenciaram aquele momento. Até hoje é o meu maior trauma no futebol. Chorei muito naquele 5 de julho com a derrota para Itália. Ainda não acredito que Zoff defendeu aquela cabeçada de Oscar. Mas isso tudo perde a importância hoje diante da partida precoce do Doutor.
Vá com Deus, Doutor. E obrigado por tudo.
P.S.- Fazendo uma procura hoje, redescobri que aquele famoso álbum trazia um certo jogador em destaque na capa. Só podia ser ele.
Comentários
Neste belo texto você fez o retrato fiel de torcedor de uma geração. O grau de merecimento de lembranças e homenagens à atletas como Sócrates é de grande valia.
Walnize
Tão bom quanto o que você também escreveu e foi lido ontem pelo João Carlos Albuquerque na ESPN Brasil.
Sócrates era realmente único. Já está fazendo falta.
Parabéns!