Geração de ouro, basquete de lata

Adoro esportes. Acompanho torneios e competições de futebol, basquete, voley, o que seja. Muito já se disse sobre o esporte ser uma alegoria da vida. E como é. O esporte também, como fenômeno de comportamento de massas, fala muito sobre uma sociedade, um país. Não é difícil perceber a natureza da formação de algumas sociedades através do esporte, do comportamento esportivo e o das torcidas. Assistindo a final da Pré Olímpico de basquete, fiquei durante todo o jogo entre assustado e divertido com a verdadeira catarse coletiva em forma de um fervor quase religioso com que a torcida argentina e seus jogadores se portaram durante a partida. Socos de raiva após uma cesta, convocações à torcida que reagia em uma ensaiada coreografia de gritos de guerra coletivos... vazios, porque a partida não valia nada.

Quem entende um pouco de esportes, e o argentinos entendem, sabe que este jogo foi uma festa. Um jogo de meninos. No jogo de homens, o que definiu a vaga olímpica os argentinos amarelaram, se apequenaram e perderam feio com seus cinco envelhecidos astros da NBA perante uma equipe brasileira renovada. Como também se apequenaram diante de Porto Rico na semi final ao ganharem nos últimos segundos por apenas 2 pontos. O Brasil meteu quase 30 nos mesmo portos riquenhos. Todo o ambiente foi formado para a farsa, torcida gritando à pleno pulmões, equipe mordida pela derrota no jogo que valeu, o que foi "à vera", e uma vitória apertada outra vez nos últimos minutos contra os brasileiros de cabelos agora moicanos, num claro sinal de que a festa do dia anterior foi boa. Somos, ao contrário da Argentina um país carnavalizado, e a capacidade de rirmos de nós mesmos é uma virtude, um "asset" que nos distingue de outros povos. Por isso, entramos em quadra para nos divertirmos e só pegamos pilha quando percebemos a arapuca que foi montada.

Bem, com esta vitória de Pirro, todos vão para casa felizes. Os argentinos, com sua geração de ouro que está jogando um basquete de lata, e nós, com a vaga garantida e com um time melhor e mais competitivo do que eles. E o melhor, vão para as Olimpíadas achando que está tudo bem, com este técnico horrível e uma falta de padrão de jogo de envergonhar os notadamente craques platinos.

Mas fica a imagem quase gordurosa, de tão melada e canastrona de uma torcida e uma seleção que se mobilizaram como um exército para um jogo que não valia mais nada. Talvez, fadados a permeneceram  esmagados eternamente pelo peso de um gigante nos seus ombros, os argentinos sintam esta necessidade recorrente de passar um recibo amarelado e bolorento da sua alma tragicômica.

Comentários

walnize carvalho disse…
Amigo Cláudio,
Texto primoroso(sem bajulação!)
...e olha que eu nem "adoro esportes"rs
Celso Vaz disse…
Vi boa parte do jogo e tive a mesma sensação.
Nas Olimpíadas,a tendência é ganharmos.

Postagens mais visitadas deste blog

Alzira Vargas: O parque do abandono

Carta de despedida de Leila Lopes