Falando em futebol...

Não assisto futebol.
Já até assisti em memoráveis Copas do Mundo(a de 70, por exemplo).Ontem zapeando a tv assisti um jogador dançando no vestuário, com olhar reprovador de um dos seus pares...e são tantas outras situações bizarras em torno dos atletas ( na mídia aparece toda hora) que fui buscar uma crônica nostálgica.Reproduzo,então:

NOSTALGIA
Paulo Mendes Campos

O futebol de hoje tem certa monotonia de repartição pública. Os jogadores assinam o ponto, cumprem o regulamento, respeitam o Sr.Diretor, desempenham suas obrigações elementares durante noventa minutos de expediente.
O chefe dos jogadores, como em geral chefe de repartição, fica de fora do expediente; é o técnico, o super-homem, o arquientendedor! Prepara o serviço com antecedência e dá entrevistas misteriosas. Os onze funcionários nada mais devem fazer do que executar a tarefa confiada. O pavor do jogador comum é não desagradar o técnico, e o pavor do técnico é não desagradar o craque. Uma faltazinha, e é a demissão, o demérito no boletim, é não ser incluído no próximo jogo.
Mas quem joga mesmo agora é o técnico! Este, com a nova escola, goza uma vantagem; arrola em sua folha corrida as vitórias e põe nos jogadores, seus funcionários, a culpa das derrotas.
Às vezes, acontece o seguinte: primeiro tempo é chato, o segundo tempo melhora. Por quê? Porque o primeiro tempo, invariavelmente, é jogado pelos dois técnicos dos dois times, os jogadores entram em campo para redigir os ofícios, lavrar as ordens de serviço, expedir memorandos e circulares. Como essa burocracia frequentemente dá errado para todos os dois lados, além de aborrecer o público, os dois técnicos, no segundo tempo, concedem um pouco mais de liberdade aos 22 homens em campo. Aí, a coisa melhora. Aí, existe realmente um pouco de futebol à maneira antiga, isto é, futebol invenção e amor… Aliás, cheio de amor, pois o amor inventa tudo…

Do livro: O Gol é Necessário: crônicas esportivas

Civilização Brasileira

2000.

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