Estudantes fazem 'vaquinha' e viúva recebe de volta carro incendiado em manifestação



Victor Farinelli



 Do site Opera Mundi:

Se o dia 14 de julho havia sido traumático para a chilena Mary Hitchman, por encontrar seu carro em chamas por obra da fúria de manifestantes durante uma passeata estudantil, esta terça-feira (13/09), quando os estudantes de Valparaíso lhe entregam outro carro novo em folha, será ainda mais memorável, desta vez de forma positiva.
Mary teve seu carro completamente destruído por alguns manifestantes que participaram do chamado “Portenhaço” (marcha organizada exclusivamente pelos movimentos sociais de Valparaíso). O grupo de Estudantes da região de Valparaíso, ao saber do acontecido, não tardou em reunir os esforços necessários em ressarci-la. “Vimos no incidente uma oportunidade de demonstrar que nossa mobilização tem muito mais de construtiva do que de destrutiva”, disse Lucas Solla, diretor da federação de estudantes da USM (Universidad Santa María), um dos principais envolvidos no projeto.
Valor sentimental
Mary Hitchman havia saído naquela tarde de quinta-feira para fazer compras no centro da cidade. Deixou o carro, um Subaru branco modelo 1998, na esquina da Avenida Brasil com a Rua San Ignacio. Retornou uma hora depois, e encontrou uma pequena multidão ao redor de uma enorme fogueira.
A dor por reconhecer seu veículo em meio às chamas não tinham que ver com a perda de um patrimônio material. O carro a ajudava a seguir ligada à memória de seu marido, José Raúl Sanhueza, morto em 2006. “Ele adorava aquele carro. Ainda quando começou a ter alguns problemas de visão, insistia em lavá-lo e encerá-lo pessoalmente, e o esfregava quase de memória”, recorda.
Curiosamente, enquanto deixava o local, Mary declarou aos jornalistas presentes seu apoio ao movimento estudantil, apesar da perda do carro. Ela não falava sem conhecimento do tema: “eu e meu marido fizemos grandes sacrifícios para poder pagar a universidade da minha filha, María José, e nem assim escapamos das dívidas”. Hoje, a estilista aposentada aluga os quartos de sua casa para estudantes, o que a mantém em constante contato com a realidade dos jovens chilenos.
Foi justamente uma dessas estudantes que viveu alguns anos na casa da Mary quem iniciou o contato entre ela e o grupo de Lucas Solla. “Foi numa aula de tango, dias depois do incidente, ela veio e me disse ´Tia Mary, não se preocupe que já estamos organizando alguns eventos para poder ajudá-la”.
A ideia inicial era reunir todos os recursos, com rifas e doações, para bancar a entrada para um carro novo, e não financiar a compra totalmente, mas logo essas expectativas foram superadas. “Em agosto, realizamos uma festa onde esperávamos conseguir 1 milhão de pesos (cerca de 3,5 mil), e a conta final foi de quase 2 milhões (cerca de R$ 7 mil)”, contou Solla.
A festa, realizada na discoteca El Huevo, reuniu mais de duas mil pessoas, e contou com a própria Mary Hitchman, dançado tango e sendo consagrada como a “Tia Mary”, uma espécie de madrinha do movimento estudantil em Valparaíso. “Começamos ajudando a uma pessoa que nem conhecíamos e terminamos ganhando uma tia que nos apoia hoje e em qualquer situação que tenhamos na vida”, concluiu Solla.

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