Cronicando no sábado...


Papel passado

Walnize Carvalho

Olhei pela janela da sala e lá estava ela, quietinha, dependurada na grade do portão de entrada de minha casa.
Passo por ela quase que diariamente, mas só paro a fim de “lhe dar atenção” ,de tempos em tempos, mas precisamente, em dias que antecedem às cobranças de tributos e serviços que utilizo: contas de água, luz, telefone, boletos bancários...
Falo da caixinha dos Correios que, na maioria das casas, são fiéis guardiãs.
E o que tem de inusitado(dirão os que me lêem) que possa servir de tema para uma crônica? Respondo com tom nostálgico: faltam cartas... Cartas que caíram em desuso pelo mundo apressado em que vivemos, onde nos valemos do telefone e dos recursos do mundo virtual para nos corresponder: MSN, Orkut, Skype, WebCam ,Facebook, Twiter, Emails...
Tomada de saudosismo lembrei-me do hábito salutar de escrever e responder cartas. A ida aos Correios. Selo. Cola. E depois... A espera do carteiro. O abrir apressado do envelope e o reconhecimento da autoria através da letra desenhada.
Recordei-me do relato dos mais saudosistas do que eu, sobre cartas em papel cor de rosa ou em folhas de seda. Muitas com leve fragrância de perfume, algumas com pétalas de rosa e até as que traziam marcas indeléveis de batom (vermelho carmim) impregnadas de paixão. Todo um ritual de comunhão e sutileza.
As cartas falavam... sussurravam... tinham ritmo de respostas (ao mesmo tempo) lentas e esperadas.Eram "cartas ridículas" como dizia Pessoa e arrematava:"não seriam cartas de amor, se não fossem ridículas"...
Elas não eram só mensageiras de sentimentos amorosos, como também portadoras de notícias aguardadas sobre decisões e do envio de documentos, fotos e até dinheiro...
Os tempos são outros! A carta é um papel do passado. O email “correio eletrônico que tem a função de controlar o envio e o recebimento de mensagens na Internet” tomou o seu lugar substituindo a sensação gostosa de espera; a leve taquicardia a cada visita à caixinha dependurada na grade do portão de entrada das casas...
Mas,é tempo de globalização. É tempo de acompanhar os novos tempos e sem dúvida, a internet veio para abrir uma vasta janela de comunicação entre as pessoas, mas o que não nos deixa furtar da observação: o e-mail é, paradoxalmente (dada a sua facilidade em emitir uma mensagem)uma resposta imediata aos nossos anseios, mas que não seja apenas porta voz da superficialidade e nem da descortesia ,da falta de camaradagem e da carência bons sentimentos; que haja a gentileza ou mesmo a franqueza sem violência.
E como dizia Mário Lago:"Eu não vou sentar na calçada vendo a banda passar,eu vou fazer parte dela" peço licença, pois vou ali passar um email para uma amiga querida, que hoje aniversaria...

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