Entre lembranças e reflexões


Amor, respeito e outras sutilezas

Walnize Carvalho

Meu pai definia a relação pai – filho numa frase inesquecível: “Prefiro ser amado a ser respeitado”. E inesquecível ficava a minha expressão de espanto, seguida da pergunta (que respeitosamente) deixava escapulir no canto da boca: - Como assim, pai? O respeito fica em segundo plano?...Ao que ele, de forma amável concluía: - Ser amado, sem ser temido!...
Apego-me a estas doces lembranças, para divagar um pouco neste dia, que em que se comemora o “Dia dos Pais”.
Às portas de entrar para o clube da terceira idade (60 chega em setembro) e de janela (seria tão bom, de colo! ) venho vivenciando transformações que o tempo se incumbiu de fazer (ou desfazer?!)...
Recordo que em memoráveis bate - papos com ele (especialmente, na varanda de casa de veraneio, onde a descontração nos fazia companhia) revelava o ritual cerimonioso entre pais e filhos em seu tempo de menino: ao acordar, ao se deitar ou sair de casa a tomada de bênção seguida de beijo nas mãos do genitor era cumprido.
Sem angústias, nem ressentimentos.
Ritual este, que a minha geração alcançou, mas com menos parcimônia nos gestos de afeto, pois era seguido de beijos na face... E aí, nesses meus momentos de reflexão, a sentença fraterna citada lá no início, se torna límpida: havia respeito embutido no amor .
Sem culpas, nem traumas.
Na roda viva dos dias, um novo sentimento veio acrescentar e revelar neste relacionamento: a Amizade. Bom! Muito bom! E tome pai amigo, pai herói, pai bandido... A relação atingiu a um patamar de igualdade, a ponto de se transformar (em certas situações) em “colegagem”. O clima de camaradagem se instalou e em um alguns casos - os fatos a nossa volta nos mostram – azedou... A cumplicidade gerou excesso de intimidade e permissividade!
Sem generalizar, ( é claro!) quase tudo é permitido.Os filhos do SIM estão em toda parte e os pais do SIM,SIM também..Neste contexto, perdeu-se um elo nesta corrente,ouve um salto no escuro e o que era para fortalecer,enfraqueceu.
A família se espalhou pelos cantos dos cômodos da casa e o individualismo se tornou par constante de seus membros. A sala de jantar ficou vazia e “naquela mesa” estão faltando eles: pai e filho para discutirem coisas triviais; para conversarem assuntos sérios e - principalmente- para, em silêncio, degustarem o prazer do convívio.
De repente, o que se vê e - o que se sente - é que há peças faltando neste tabuleiro do bem viver: as chamadas sutilezas ,que bem podem ser traduzidas por tolerância, atenção, zelo, fraternidade, confiança, e ,talvez, o exercício de interação de papéis.
Sem cobranças, nem correrias.

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