Recomeço


Walnize Carvalho

Aposto que nesta manhã de sábado muitos (como eu) acordaram sob o efeito da ressaca da realidade: amanhã é, efetivamente, o término das férias.
E sabem (como eu) que a indisposição gerada por quem sorveu até o último gole a alegria do lazer merecido, só será curada gradativamente.
Será preciso se reidratar, ganhar energia bebendo a água pura, cristalina e imaginária do bom senso.
É chegado o momento de guardar a fantasia, arrancar a máscara do rosto, juntar confetes e serpentinas e se vestir da indumentária do compromisso.
Este sábado é propício para refletir sobre os dias vividos: as férias da rotina da cidade; o descanso dos hábitos diários; o distanciamento de obrigações com hora marcada...
Sem nostalgia, recordar o olhar perdido e encantado em outros cenários e personagens e como foi saudável manter contato diário com a Natureza, amigos e familiares. Sem contar, o convívio com pessoas de hábitos simples (o vendedor de picolés, o jornaleiro na porta, o vizinho que só se vê anualmente,) cujo “bom dia” diário despertaram reciprocidade.
Estes encontros e emoções foram transformados em relatos, os quais transpus,
com alegria, para algumas crônicas aqui publicadas.
Foram momentos de auto análise, de se olhar no espelho da Alma e de se ver por inteiro.
Agora é o recomeço, pois a inevitável constatação desfila perante aos nossos olhos: a próxima segunda-feira será, verdadeiramente, ano novo. E é quando silenciarão os tambores da euforia, pois o cotidiano nos chama. O relógio esquecido no fundo da gaveta volta ao pulso. De agenda na mão, celular ligado, notebook na pasta... pernas para correr atrás do tempo que já anda a passos largos.
De alma lavada pelo descanso merecido, retomamos as tarefas variadas: faxinar casas, regar plantas, recomeçar dieta esquecida, enfrentar filas de livrarias e bancos; agendar consulta com o dermatologista (os estragos na pele são evidentes) e marcar um horinha com a cabeleireira a fim de hidratar as madeixas ressecadas...
Como despertados de um sono bom, nos damos conta das contas a pagar (IPVA, IPTU...) e a da luz, que graças ao ar condicionado ligado direto, apaga o nosso ânimo!
Agora é tempo de desarquivar dores pessoais e coletivas, que guardamos no banco de memórias e vivenciá-las. Resgatar projetos e sonhos. E, acima de tudo, (ainda que a contragosto) despedirmos do verão.
Com a mesma louca evidencia que decretamos o início do ano agora (ele já está em cartaz há 71 dias) também finalizamos o verão ao término do carnaval.
Fim de férias.
Como muitos, refaço o caminho de volta. E descansada (ou cansada?) mas feliz, desembarco, afinal, em 2011 ao sabor das lembranças e de braços dados com a ESPERANÇA.

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