Daquilo que deixei pra trás


Walnize Carvalho

Mais uma temporada de veraneio que termina!
Dois meses em que a família se muda, anualmente, “de mala e cuia” para a casa de praia (Farol de São Tomé). Um hábito perpetuado por gerações e gerações, que vem desde os meus avós que acreditavam que a cor iodada do mar tinha o poder curativo do Beribéri (doença cujo sintoma inclui fadiga nas pernas )e que seguiu com meus pais, irmãs, filhos e netas.E são elas que resgatam ( juntos dos amigos de temporada) prazeres como: banhos de mar, vôlei na areia, jogos de baralho, passeios na orla da praia...
E agora, que parte da família já se foi (retorno ao trabalho e às aulas escolares) fiquei eu para recolher cadeiras e redes da varanda e encerrar a temporada. Dou uma leve espiada sobre o cenário desfeito e o imaginário toma conta. Estaciono no passado e revejo as conversas descontraídas de verões distantes ( meu saudoso pai e suas interessantes histórias) ; eu, irmãs e primas indo eufóricas para o banho de mar(sempre na companhia de mamãe e tias).
Retomo o pensamento e visualizo cenas recentes: o ir e vir das netas adolescentes; a alegria da neta menor vindo do mar com o baldinho cheio de conchas; minhas caminhadas matinais em meio à ala de casuarinas, que terminavam com olhar em contrição sobre o oceano;o picolé após a sesta; as conversas descontraídas às tardes com as irmãs; o despertar com os bem-te-vis; o anoitecer olhando lua e estrelas...
Caminho até o portão. Olho a rua.
A marimba ainda está na amendoeira em frente, assim com a pipa rasgada no fio elétrico do poste. A árvore florida de papoulas continua recebendo a visita do beija-flor ,que ignora o meu olhar de encantamento.
Hora de partir.
Levo na bagagem a esperança de que no ano que vem começará tudo outra vez.

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