Neo Ufanismo Sem Hífen

Sou o que se pode chamar um filho do "milagre econômico" da ditadura militar. Como o saudoso Brizola, venho de longe, e já vi vários tipos de ufanismo. O pior e mais perverso sem dúvida foi durante a ditadura militar.

Vivi ainda criança o ufanismo "Brasil, ame-o ou deixe-o" enquanto um falecido a ainda querido tio fugia para a Bahia na calada da noite por suas posições políticas. Durante este momento "Este é um país que vai prá frente! ou, ou, ou, ou, ouuuu...."meu pai abrigava uns "tios" no seu escritório que era uma sala anexa à nossa sala de estar. Mais tarde fui descobrir que eram sindicalistas que temiam por sua segurança.

Também passei pelo ufanismo, quem diria, do Sarney e seu plano Cruzado. Acompanhei pela televisão os "fiscais do Sarney" fechando supermercados e peguei carona no helicóptero da Globo junto ao ministro Dilson Funaro à caça de boi gordo no pasto. Aquela era uma discussão fundamental naqueles dias: existia ou não boi gordo no pasto?

Ahh, velhos bons tempos aqueles...

Quando tudo parecia perdido, meus dias já sem razão de ser, eis que aparece o NEO UFANISMO SEM HÍFEN, também conhecido como NUSH! Agora sim, tudo parece fazer sentido!

O que me preocupa nesta situação é que com a pujança da economia nacional veremos em breve levas de escandinavos, neo-zelandezes, canadenses, austríacos, alemães, enfim, toda sorte de imigrantes desses paisinhos xinfrins aqui no Brasil.

Virão aqui, em busca de um sistema de saúde pública que resolverá suas demandas históricas e logo esquecerão daqueles hospitais mequetrefes da Austrália ou da Dinamarca, já que nos nossos hospitais sim, terão acesso a um tratamento de cidadãos de 1ª classe e instalações de 1º mundo. E nem precisa entrar em fila!

Não mais precisarão inscrever seus filhos naquelas escolinhas sem vergonha da Bélgica ou Suíça, já que aqui, terão educação pública muito superior às do Japão, Suécia ou Espanha por exemplo, já que nossas escolas com seus equipamentos futuristas e professores bem treinados e remunerados, além do sistema pedagógico revolucionário colocam no chinelos as destes paisecos meia-boca.

O que dizer do nosso transporte público então? Nossas ruas e rodovias? Nunca mais aqueles alemães comdores de chucrute irão sequer pensar em pegar aquela lata velha que eles chamam de trem-bala, já que aqui, ahhh...aqui eles tem os trens da Central do Brasil para irem com todo conforto para o trabalho.

Os Belgas então, nunca mais dirigirão de noite naquelas estradinhas públicas metidas à besta só porque são todas iluminadas, de ponta-a-ponta do país. Aqui sim, nas nossas estradas, encontrarão o paraíso terrestre em forma de asfalto! E a educação dos nossos motoristas! Não, eles nunca mais voltarão para seus países!

Os suíços e canadeneses então! Aqueles comedores de chocolate e jogadores de hóquei no gelo esquecerão definitivamente suas policias sem treinamento e desaparelhadas quando se depararem com a primeira PATAMO de suas vidas, e de noite ainda por cima! Verão então, o que é uma polícia de verdade! A gentileza dos nossos policiais com certeza os levarão às lágrimas!

Os franceses e italianos ficarão embevecidos com a qualidade dos nossos museus e como nossos prédios e sítios históricos são preservados, os coreanos e japoneses se surpreenderão com a competitividade das nossas empresas e abandonarão seus trabalhos na Samsumg, Daewoo, Kia, LG, Sony, Honda, Toyota pelas melhores condições de trabalho das nossas!

Precisamos rapidamente criar reservas de mercado empregatício, cotas de nacionalidade nas empresas e escolas, e treinar nossa PF para humilhar bastante estes alienígenas nos nossos aeroportos, e assim nos vingar dos anos de opressão!

Milhões e milhões de brasileiros farão o caminho inverso e retornarão à pátria amada como filhos pródigos do NUSH, aleluia irmãos!!!

Comentários

Decididamente você precisa escrever mais aqui, Claudio.

Forte abraço!!!
xacal disse…
ok, cláudio...

tens razão, temos poucos motivos para nos orgulhar, mas quando temos alguns, fazemos chacota deles...

a despeito do bom humor de seu texto(que gostei), dos desafios que se colocam(são enormes)faltou cobrar a "conta" de quem realmente nos deve esse presente/futuro que nos foi roubado...

aí sim, o bom-humor rimaria com bom senso, e deixaria de ser senso comum...

um abraço...
Claudio Kezen disse…
Xacal,

Minha intenção não é fazer chacota, apenas olhar com humor este fenômeno que também chamou atenção do Roberto Torres.

E aí, topas aquela parada da globo?

Abração.

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